lá fora numa manhã parada de horas murchas
sente-se o estado geral de inquietação um silêncio
como é hábito no tempo que precede as provações
ramos d’árvores pendem mudos desinteressados
o Sol não derrama ainda os habituais fios doirados
sobre o cinzento pardo das manhãs empasteladas
debruçado sobre o mundo a meus pés erguido
oiço o marulhar do abismo cavo e gurgitante
coração bate, bate com surpresa aflita e muda
como se o espaço implodisse sob o chão que me sustenta
e o tempo retardasse e só ao de leve me tocasse
exangue e anémico estando em vias de parar
não sei se é a mim e por mim que estas coisas vêm
que acantonado na insignificante concha primordial
de tudo desenganado e já tocado pela sorte cruel e nua
me entreguei derrotado e submisso ao destino
cerro os olhos o coração pára e oiço o restolhar do mundo
a retirar com armas e bagagem para os cantos do universo
não sei se é só o mundo que me vai abandonar
pressinto-o a refluir para a distância infinita
arrastando consigo casas, árvores, animais e lugares
deixando-me indefeso e solitário nas mãos do nada
este nada que sempre foi a prancha do ser
a vogar sobre as águas indistintas e primordiais
6 comentários:
Como se se escoasse água por um ralo enorme, do mundo, das palavras fúteis?
Há manhãs que são despidas e agudas. Surdas também.
Um vórtice de pensamentos.
Bate bate coração. Fecha os olhos e dorme, adormece e amortiça-te com a terra.
Obrigada, estou no último parágrafo... claro! mas achei graça à tua litania.
Leva um abraço, sossegado de entendimento, para casa.
Adorei o teu comentário:)
Concordo tanto com a última parte, que passem depressa estes dias, para voltarmos a nossa normal amizade sem estas
palavras "obrigatórias"...
Mas que tenhas um Feliz Natal, todos os dias...
Beijinho e abraços:)
*
Uma feliz Quadra
lembrando, os …
,
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
,
In - P. Carvalho
,
Conchinhas de Luz
,
*
Um apressado abraço de Natal que vou dentro em pouco entrar na recta que leva aos repastos festivos.
Fica bem, Amigo, e agarra o mundo que aí está à tua volta e dentro do teu coração.
Um beijinho estrelado*****
Visão apocaliptíca, mas nem por isso menos sedutora, deste tempo despido de sentido.
Que vivam então os gestos primordiais. Como os de amizade.
Abraço-te
Enviar um comentário