sábado, 14 de fevereiro de 2009
não tarda aí o crepúsculo
corpo de mim minha árvore podada
a quem pela presença insistente do olhar
foi ofertada a multiplicidade do ser
corpo em misterioso jardim plantado
cujo tronco ergue-se solene e calmo
e seus ramos roçando o céu imitam
dedos amorosamente entrelaçados
corpo meu ergue a voz poderosa
que desde os tempos imemoriais
pune o silêncio e castiga a morte
deixa meu corpo que a palavra se solte
e que a palavra esvoace através do éter
e cruze em todas as direcções o esférico
semeando aqui e ali as fiadas de rosas
que apascentam os rebentos do real
e que muito ao lonje e lá no alto vão
ao real acrescentando novos lugares
só pelo poder que têm de designar
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Desta janela em que me abismo
lá fora numa manhã parada de horas murchas
sente-se o estado geral de inquietação um silêncio
como é hábito no tempo que precede as provações
ramos d’árvores pendem mudos desinteressados
o Sol não derrama ainda os habituais fios doirados
sobre o cinzento pardo das manhãs empasteladas
debruçado sobre o mundo a meus pés erguido
oiço o marulhar do abismo cavo e gurgitante
coração bate, bate com surpresa aflita e muda
como se o espaço implodisse sob o chão que me sustenta
e o tempo retardasse e só ao de leve me tocasse
exangue e anémico estando em vias de parar
não sei se é a mim e por mim que estas coisas vêm
que acantonado na insignificante concha primordial
de tudo desenganado e já tocado pela sorte cruel e nua
me entreguei derrotado e submisso ao destino
cerro os olhos o coração pára e oiço o restolhar do mundo
a retirar com armas e bagagem para os cantos do universo
não sei se é só o mundo que me vai abandonar
pressinto-o a refluir para a distância infinita
arrastando consigo casas, árvores, animais e lugares
deixando-me indefeso e solitário nas mãos do nada
este nada que sempre foi a prancha do ser
a vogar sobre as águas indistintas e primordiais
terça-feira, 29 de abril de 2008
Livro de visitas
Nesta página procurei conservar os textos poéticos que Perdido (cognome do Rodrigo Rodrigues) apelidou de Filosofemas do Bardo.
E Filosofemas porquê? Filosofemas, e não poemas, porque Perdido quis explicitamente afastar qualquer intencionalidade estetizante dos seus escritos. Achava que, se tal mérito lhes viesse a ser reconhecido, seria uma mais valia a considerar. Porém, o seu intuito era, é ainda e sempre, o de satisfazer a Sabedoria através da Palavra Amorosa. E porquê do Bardo? Bardo é uma das três funções da ordem druídica, a de transmitir algo através da elevação da voz, a palavra cantada. Pois, segundo o Bardo “amar / - o equivalente da linguagem / há muito ocultada - / é o poder de designar”.
E Filosofemas porquê? Filosofemas, e não poemas, porque Perdido quis explicitamente afastar qualquer intencionalidade estetizante dos seus escritos. Achava que, se tal mérito lhes viesse a ser reconhecido, seria uma mais valia a considerar. Porém, o seu intuito era, é ainda e sempre, o de satisfazer a Sabedoria através da Palavra Amorosa. E porquê do Bardo? Bardo é uma das três funções da ordem druídica, a de transmitir algo através da elevação da voz, a palavra cantada. Pois, segundo o Bardo “amar / - o equivalente da linguagem / há muito ocultada - / é o poder de designar”.
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